Falar de ioga pode provocar as mais variadas e inesperadas reações. Outro dia, um aluno de 11 anos em sua primeira aula perguntou: “Como surgiu o ioga?”. Contei a história em sua versão para crianças e pré-adolescentes. E então ele falou: “Sempre achei que ioga era tipo aqueles movimentos de circo, dos contorcionistas. E quando penso em ioga penso sempre naqueles homens muito, muito magros, da Índia, que deitam em camas de prego”. “Os faquires”, acrescentei.
Então expliquei que o ioga não tem nada a ver com o que fazem os faquires. Lembrei do prefácio de um livro, Brincando com o Yoga, de Elizabetta Furlan, publicado pela Editora Ground: “(O ioga) Trata de um conjunto de técnicas – desde as mais simples às mais difíceis – que ajudam o ser humano a viver melhor, pensar melhor e se beneficiar não só física como intelectualmente. Através da prática constante é possível executar posturas normalmente inacessíveis a quem não tem o costume de praticar exercícios. Mas também é possível alcançar um estado de consciência e de serenidade interior que nenhum tratado de filosofia ou de psicologia pode conceder. O ideal é praticá-lo desde cedo, se possível, desde criança”, escreve tão bem Emilio Servadio, no tal prefácio.
Mas será que as crianças conseguem executar as tais práticas meditativas? E Emilio responde: “Não é verdade que é desde pequenas que ensinamos às crianças noções de higiene e boa educação, e que depois de aprender o alfabeto, elas podem ler e escrever? Se limitarmos a criança apenas àquilo que o mundo externo oferece, ela não conseguirá uma harmonia total, de corpo, mente e espírito, a qual pode chegar através do ioga, e que constituirá a base de um bem-estar para toda a vida”.
Praticar ioga com crianças pode ser muito divertido, mas não se trata apenas de uma aula diferente, uma atividade física, os ensinamentos que aprendemos com a prática são para a vida toda, e constituem verdadeiras ferramentas para cultivar saúde e bem-estar que levamos conosco para onde formos (em um próximo texto contarei como podemos desentupir o nariz, por exemplo, com um exercício).
O lúdico, a diversão, a adaptação para as crianças depende de como conduzimos as posturas, os exercícios de respiração, de como abordamos o aspecto filosófico da prática. Pouco a pouco, ao longo das aulas, as crianças vão entendendo que toda prática tem um começo, meio e fim, vão conhecendo os benefícios de cada postura e vão descobrindo que aquilo, de alguma forma, faz com que elas se sintam bem, algo que vai além da diversão do momento.
Em minhas aulas, por exemplo, utilizo pelúcias de bichinhos para apresentar as posturas inspiradas nos animais e uso sempre um acessório interessante para ajudar as crianças na hora da respiração, a esfera Hoberman. Vocês já devem ter visto por aí, mas talvez, como o pai de um aluno, não tenham achado uma utilidade para ela. Pois aqui vai uma: respirar.
Para a prática pais e filhos desta semana, sugiro iniciar a aula sentados na postura de lótus, ou com as pernas cruzadas na postura fácil (ver figura 1), inspirar levantando os braços lá em cima da cabeça e expirar baixando as mãos na postura da prece, com as palmas unidas até a altura do coração, enquanto a expiração ocorre entoamos o “Om” ou o próprio nome, com ênfase, neste caso, para a última letra, a última vogal.
Respira no IogaApós este início, que serve para acalmar e centrar para as posturas que seguem, fazemos um exercício de respiração, ainda sentados, com a esfera Hoberman. Caso não tenham em casa, vale fazer o exercício com as mãos na barriga. Puxamos o ar abrindo a esfera, a barriga cresce, soltamos o ar fechando a esfera, a barriga desce, o umbigo como se quisesse colar nas costas, bem lentamente. As crianças adoram brincar com a esfera e, provavelmente, vão querer acelerar o processo, respirando rápido. Costumo deixar que explorem o objeto um pouco, e então seguimos com as posturas.
Vamos praticar as seguintes posturas:
1. Cachorro olhando para baixo alternada com cachorro olhando para cima (vale latir e levantar a perna para fazer xixi no cachorro olhando para baixo e também colocar a língua para fora e respirar como cachorro cansado quando estiver olhando para cima);
2. Ainda em quatro apoios, praticamos a pose do gato e da vaca, alternadas (solta o ar curvando as costas como os gatos fazem quando assustados, a coluna vai lá em cima, corcunda, a barriga encolhe, puxa o ar a barriga cresce e o cóccix vai lá em cima, como se quisesse formar a letra “u” com a coluna, a cabeça também fica para cima, o olhar vai para o alto – vale miar e fazer “moo”);
3. Em pé, praticamos as posturas do guerreiro 1, depois, na sequência o guerreiro 2, e por fim, o guerreiro 3, também conhecida como postura do avião (esta é a postura desafio, que exige equilíbrio – vale segurar uma das mãos da criança para ajudar a equilibrar, depois deixamos que tente mais uma vez, sozinha).
Depois do exercício, hora de descansar e relaxar o corpo todo: deitamos na postura do cadáver (também conhecida como postura da estrela-do-mar), olhos fechados, a boca relaxa, a respiração vai ficando tranquila… Nós adultos podemos ficar nesta postura 5, 10 ou até 15 minutos, mas as crianças ficarão bem pouco tempo. Faz parte! Após este momento de tranquilidade, espreguiçamos, sentamos lentamente, passando pela posição fetal, e agradecemos pela prática.
Namastê!
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Ana Corazza
Jornalista, mãe de um menino de 9 anos e professora de Ioga para Crianças. É embaixadora da Rainbow Kids Yoga no Rio de Janeiro. Para saber onde praticar Ioga Pais e Filhos acesse: www.facebook.com/namastekidsyogarj. Para entrar em contato com a Ana: namaste.kids.yoga.rj@gmail.com
Referências: Furlan, Elizabetta. Brincando com o Yoga. Editora Ground.
Imagens: Shambala.com – Menina em Postura de Lótus;